USO E OCUPAÇÃO DO SOLO ÀS MARGENS DO RIO FORMOSO-TO: ABERTURA DE CANAIS DE IRRIGAÇÃO E DRENAGEM

  O rio Formoso no estado de Tocantins está inserido na bacia hidrográfica do Tocantins/Araguaia e sub bacia do Araguaia. Nasce entre os municípios tocantinenses de Sandolândia e Figueirópolis, tem aproximadamente 405 km de extensão e larguras médias mínima e máxima de 45 m a 90 m respectivamente da sua calha, com canal fluvial de formato meandriforme. É afluente do rio Javaé, perpassando pelos municípios tocantinenses quando da sua porção no município Pium (Figura 1).

Figura 1. Localização do rio Formoso no estado de Tocantins.

   Dentro dos limites da bacia do rio Formoso (declividades predominantes entre 0 a 10%), em altitudes maiores que 180 m predominam as fitofisionomias cerrados densos e típicos em mosaico com cerradão que, juntos, são denominados cerrado lato sensu, ocorrendo sobre as classes de solos Plintossolos e Latossolos, tanto em áreas planas como em terrenos ondulados. O cerrado lato sensu ocorre associado às matas de galeria e ciliar, juntos aos corpos hídricos e às florestas estacionais semideciduais nas regiões de terreno dissecado e afloramentos de rocha. Nessa fitofisionomia (cerrado lato sensu) há implantação de atividades agropecuárias, em especial as áreas de cerradão e florestas estacionais semideciduais, devido à boa qualidade das madeiras e às melhores condições físicas e ou de fertilidade dos solos onde essas fitofisionomias se desenvolvem, em relação aos cerrados vizinhos.
   Na planície inundável do Rio Formoso há cerrados inundáveis e parques de cerrado inundáveis (fitofisionomia Savana Parque, desenvolvidas sobre Plintossolos e Gleissolos). Predominam, nessa paisagem, campos com murundus (campos úmidos com alta riqueza e diversidade de espécies, as formações monodominantes), onde estão inseridas “ilhas” de terra elevada, com a presença de árvores de cerrado e florestas agrupadas. Ainda ocorrem nesses cerrados úmidos fragmentos de florestas inundáveis denominadas Ipucas.
   Na bacia hidrográfica do rio Formoso, o uso e ocupação do solo por atividades agropecuárias em substituição à vegetação nativa (Figura 2) avança, sobretudo, nas cotas de maior e menor altitudes (Figura 3). Considerando-se apenas uma faixa de 10 km paralela às margens do rio Formoso nota-se, que a antropização de tal área teve um aumento de aproximadamente 5,0 vezes entre os anos de 1984 a 2022 (Figura 4).

 
Figura 2. Imagem de satélite Sentinel2 datada de 24/06/2022 para indicação das fitofisionomias em uma faixa de 10 km paralela às margens do rio Formoso do estado de Tocantins, Brasil.
 

Figura 3. Classes de altitude em uma faixa de 10 km paralela às margens do rio Formoso do estado de Tocantins, Brasil.
 

Figura 4. Uso e ocupação do solo em uma faixa de 10 km paralela às margens do rio Formoso do estado de Tocantins, Brasil.

   A antropização das áreas da figura 4 dão-se, principalmente, na “planície fluvial” (unidade de relevo), com a implantação de áreas irrigadas por meio de canais de água construídos a partir dos grandes rios, úteis no cultivo de soja, milho, melancia e melão, principalmente, bem como canais de drenagem.
   Drenar áreas de várzea para cultivos agrícolas constitui em remover o excesso de água dos solos favorecendo a aeração. O processo de drenagem por meio de canais promove impacto na qualidade das águas superficiais e subterrâneas, prejudicando os recursos hídricos. Tais impactos alteram o processo de escoamento e formato de calhas de rios, influenciando a migração e reprodução de peixes e seus habitats, promove mudanças na drenagem e ciclo de enchente das áreas alagadas, fatos esses que recaem sobre à mobilidade e ciclagem dos nutriente necessários à vegetação nativa e micro e macro fauna, e culminam na alteração da qualidade química, física e biológica da água, citando aqui eutroficação, sedimentos em suspensão, alteração de temperatura e turbidez e demanda bioquímica de oxigênio
   Os canais para irrigação construidos na bacia do rio Formoso servem, no período chuvoso, principalmente para manejo da lâmina de água no cultivo de arroz “alagado”, devido a maior abundância de água e, no período seco, para irrigação por de espécies vegetais como melancia, soja, feijão entre outras.
 

Figura 5. Canais de irrigação em áreas de várzeas fluviais do rio Formoso do estado de Tocantins, Brasil.
Fonte: Secretaria Estadual da Agricultura, da Pecuária e do Desenvolvimento Agrário, em Brasília (DF).


 
Figura 6. Canais de irrigação em várzeas fluviais do rio Formoso do estado de Tocantins, Brasil. Em A, conexão do canal secundário; em B, conexão canais principal com secundário e com terciário; em C e D entrada de água no modulo por declividade e capilaridade.
Fonte: Adaptado de Silva (2015).

  É importante ressaltar que, para manter tais projetos de irrigação no período da seca, ou seja, os canais cheios de água, agricultores realizam o bombeamento ininterrupto da água direto dos rios, como se os mesmos fossem particulares, fato este que inviabiliza a manutenção da vazão mínima de diversos trechos de rios trazendo prejuízos ambientais irreversíveis.
 
Por

Raphael Cessa


Referências

https://www.to.gov.br/secom/ministerio-aprova-proposta-de-revitalizacao-do-projeto-rio-formoso/2w2s59o0fw3h
https://www.ifg.edu.br/attachments/article/5213/Disserta%C3%A7%C3%A3o_Processos%20Sustent%C3%A1veis_Alberto%20Jos%C3%A9%20Rezende%20Silva.pdf

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